02 janeiro 2007

A estrada para Cusco, de novo

Recebi agora da Liliane o relato da estrada de Mazuco para Cusco, mostrada em posts anteriores. Aí vai com um mapa feito por ciclistas e que encontrei na internet. A referência está na imagem.



12/08/06 – MAZUCO – Tem uma ponte que está em reforma na Transocêanica – Ramal 3 - A ponte só abre depois das 18 horas e fecha às 6 horas da manhã. Quando íamos passando, furou o pneu do carro, já estava escuro. Os meninos apanharam um pouco para trocar o pneu, não sabiam aonde colocar o macaco. Apoena enfiou a cabeça debaixo do carro, que estava suspenso por um macaco que não sabíamos se estava apoiado no lugar certo do carro, ou melhor tínhamos certeza que não estava pq a partir de um determinado ponto não subia. Apoena enfiou a cabeça debaixo do carro suspenso e eu fiquei apavorada do carro cair na cabeça dele. Depois de alguns gritos, xingamentos e indignação conseguimos, mas tivemos que dormir em Mazuco, ainda bem !! A estrada para Cuzco é linda e extremamente perigosa. Estávamos pensando em prosseguir viajem até Quincemil, que é um povoado bem pequeno, provavelmente iríamos ter dificuldade em encontrar lugar para dormir e comer na hora que chegássemos, isso se chegássemos. Minhas preces foram ouvidas.

Fomos concertar o pneu e procurar lugar para dormir, tudo era uma aventura, o lugar parecia se resumir a uma rua muito movimentada, um trânsito enorme de caminhões, ônibus etc..e muitas pessoas na rua, principalmente trabalhadores da ponte. A rua/cidade vive em função das obras da ponte, tem uma boate de prostituta em cada esquina. O máximo é que eram todas decoradas com luzes azuis, vermelhas etc.. maior animação. Eu e o Ian fomos procurar uma pousada , foi difícil encontrar e ficamos no melhor que encontramos, uma vila de quartos, mas era limpo e tinha um ventilador para cada quarto, a Hospedaje Condomo. Depois de comer ¼ de Pollo em um bar onde todos iam jantar e ver televisão, fomos dormir para sair bem cedo (5 horas) para atravessar a ponte rumo a Cuzco. A noite foi terrível, nosso vizinho de quarto trancou a porta de seu quarto e as crianças ficaram sozinhas dentro, foi a maior confusão de criança gritando e adulto tb. Depois de muito tempo até abrir a porta, lá pelas tantas um despertador começou a tocar em um dos quartos e seu dono havia sumido e ninguém conseguia desligar o despertador, foi aproximadamente uma hora, ou mais nessa história, e lá fora a música rolava alta nas boates, era uma sexta-feira. Quando as coisas acalmaram já era hora de levantar, tomar o café da manhã que a dona da hospedagem, gentilmente preparou para nós, pegar os sanduíches e cair fora. Detalhe, Apoena pensava, onde fui amarrar minha égua.

13.08.06 – Mazuco -Quincemil - ainda bem que não fomos na noite anterior, a estrada era subida o tempo todo, cada vez mais alto cortando a montanha. Estrada de terra, muito estreita e um precipício muito alto acompanhando a estrada, que cabia apenas um carro e vinham enormes caminhões-tanque de combustível, cheios de gente em cima, descendo a estrada, todo hora uma placa “FAVOR BOCINAR”, nós apertávamos a mão na buzina mas os caminhões, que vinham descendo, quase nunca faziam. Tínhamos que encontrar um espaço na estrada para poder parar e deixar o caminhão passar. Em uma desas vezes não encontramos o tal do espacinho, estávamos em um lugar muito alto mesmo, mal tinha lugar para uma pessoa ficar ao lado do carro, uns (4.000 m de altura) precipício, os dois emninos foram muito habilidosos, Ian dirigindo e Apoena do lado de fora orientando, foram descendo o carro de ré por aquela estradinha estreita e cheia de curvas, enquanto isso o caminhão lá parado e o pessoal em cima olhando e rindo, acho que eles estavam esperando a gente despencar lá de cima.

A estrada á a mais linda e mais perigosa que já estive. O Rio Inambari passa ao lado dela o tempo todo, com inúmeros riachos e lagos. As cachoeiras saem da mata e atravessam a estrada . Passamos por vários pueblos, os índios são impressionantes, tem um andar diferente, parece que andam pulando, moram bem no alto das montanhas, a mais de 4.000 metros, são agricultores, tecelãos, criam alpacas, ovelhas, cavalos e uns burrinhos pequenos, muito milho e batatas de vários tipos. O campo é lindo, os pueblos com suas casas minúsculas, para o tamanho deles, com telhados de palha, bem fininha e as paredes de pedra. Muitas pedras ao longo de todo o caminho.

As crianças com as bochechas vermelhas do frio e o nariz escorrendo, são muito sujas, aquela sujeira já incrustada, a pele é grossa, parece um couro. Acho que banho não rola naquele frio.

Eles tecem muito, são tecelagens caseiras, possuem cachorros (los perros) para ajudá-los com o rebanho, é uma raça de lá mesmo, preta peluda, com a umas manchas brancas no peito e na cara, parece aqueles cachorros pastores da Escócia. Los perros tocam os rebanhos de alpaca e ovelha, ao final do dia, lá pelas 5 horas, as crianças, com a ajuda dos perros tocam o rebanho para o local aonde vão passar à noite.

Quando passávamos três cachorros correram para a estrada brigando e acabamos atropelando um deles, acho que matamos. É preciso muito cuidado com os perros porque eles atravessam a estrada o tempo todo.

Nenhum comentário: